domingo, 20 de junho de 2010

Pick-esconde no seu gozo

É tão divertido diverti-la, vê-la dar risada de coisas bestas, abraçá-la depois de falar alguma besteira irritante, e reclamar das coisas até fazê-la perder a paciência comigo. É tão divertido sair por aí com ela sem saber aonde querer chegar ,assistir filmes desconhecidos, ir na livraria e ficar horas olhando as prateleiras, dizer alguma coisa proposital só pra ver se ela ficaria com ciúmes. É tão divertido simplesmente ficar ao lado dela, meu braço sobre seu ombro, conversando sobre nada relevante. É tão divertido acordar e ver que, dessa vez, não foi tudo um sonho e que ela estava lá, dormindo ao meu lado com suas mãos envolvendo as minhas. É tão divertido fazer tudo o que sempre quis, do jeito que eu sempre quis e com quem eu sempre quis.


Quer dizer, eu acho que deve ser.

Vai ver eu tento me esconder em você, e desse jeito acabo lhe sufocando. Vai ver eu me sinta protegido pensando essas coisas, mas acabe causando uma irritação imensa em você. Vai ver eu esteja errado de sonhar tanto, de falar tanto sobre isso, e viver nesse híbrido de passado/presente/futuro, perdendo a noção de tudo ao meu redor. Vai ver eu devia parar. Pensar menos, falar menos, sonhar menos pra viver mais. Mas eu não sei sonhar menos, assim como eu não sei reclamar menos, e querer irritar você menos. Vai ver é só meu jeito de me proteger, esse meu depender de outra pessoa, um defeito muito grande de personalidade. E é por isso que quando você me pergunta se tenho certeza do que quero eu respondo que sim, porque não é fácil suportar este meu jeito, e se você suporta eu posso muito bem aceitar o seu jeito, mesmo não o conhecendo direito.

Uma vez me disseram que amar é aceitar as imperfeições da pessoa que você tem ao seu lado, vai ver é isso mesmo. Desculpa por irritar tanto você com essas bobagens, com as minhas bobagens do pretérito e as minhas bobagens sobre o futuro, e meu jeito de não saber viver o presente; vai ver é porque eu quero um presente diferente, um presente com você.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O pequeno mundo imaginário do garoto que não podia voar

Quando criança desenvolvi um mecanismo para sempre que eu ficasse assustado ou as coisas se tonassem insuportáveis eu pudesse fugir para longe. O mecanismo não passava de um mero artifício mental, eu usava a minha imaginação e fugia para uma realidade alternativa onde eu seria capaz de mutilar aqueles que me ameaçavam e ficar mais próximo daqueles que eu precisava naquele momento. Não estranhem quando eu disser que, mesmo passados tantos anos, eu ainda recorro a esse mecanismo para fugir dos problemas que aparecem na minha vida. Talvez seja mesmo covardia, como você está pensando, ou algum trauma psicológico ou qualquer coisa do tipo, tanto faz. O fato é que não tenho mais controle, sempre que tenho vontade de fugir ou sumir, meu subconsciente quase que automaticamente ativa esse mecanismo; e eu me pego imaginando as coisas mais absurdas e achando aquilo tudo muito ridículo. É uma imunologia que meu cérebro desenvolveu, uma insanidade para me manter mais são, um sistema de defesa psicológico que é em si um problema psicológico. Uma ironia enraizada nos tecidos do meu cérebro.



Ou vai ver é só imaturidade mesmo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O capitalista

Objetivo, dinâmico, materialista, velocidade nas ações e reações. Egoísta, orgulhosamente engrandece a si mesmo, considerando-se uma engrenagem necessária para o funcionamento das coisas ao seu redor, e ao mesmo tempo se sente preso a esta submissão. Raciocínio rápido, observador que precisa estar sempre em movimento, ascendendo ou estabilizando pra resolver e evitar problemas. Reifica tudo, sentimento de propriedade, possessivo. Precisa exercer controle, ter total consciência do que se passa ao seu redor ou com pessoas próximas. Tem ciúmes daquilo que foge ao seu controle, daquilo que foge da sua compreensão e das suas estatísticas. Nega-se a admitir opiniões contrárias a sua. Desconfiado de tudo e de todos, não confia facilmente. Substancial, adptando-se às diferentes situações como um líquido facilmente muda sua forma ... talvez nunca sendo o 'verdadeiro eu'.

Eternamente uma contradição de si mesmo.

"A profissão que me deu qualidades tão ruins. E a desconfiança é também consequência da profissão. Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes"
(São Bernardo, de Graciliano Ramos)