quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O amor em grego

te filo, sofia
filo pedaços de ti para mim
tuas maneiras, teus gestos, tuas frases
tuas escusas, teus carinhos
tua poesia ruim
tudo isto se torna muito meu

te filosofio
crio postulados sobre ti
teu gosto, teu cheiro,
teus cabelos da cor dos olhos
teus olhos, ah, teus olhos!
tudo isto se torna uma reflexão metafísica

Ó, Platão
que mundo de sonhos me deste
Ó, Aristóteles
que paradoxo do ser e estar feliz me mostraste
(quando se é jovem tudo são efemeridades,
até quando durará seu amor que não é amor?
- porque não sei nada, só penso que sei)

Na distância do sonhar tu te tornas uma idelização bonita

e por hoje basta a turbulência do que passas,
deixa a nossa velhice (e a felicidade) pra mais tarde, amor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

síndrome de "locked-in"

a própria existência se apresenta como um cárcere anormal: não sei se minha mente é orquídea, erva-de-passarinho ou cipó-chumbo. só sei da facilidade com que me enraizo a convivências e lugares que vou conhecendo - sou a dependência de meus externos, autonomia sem voz gritada dentro da cabeça. ah, que sufoco que é não ter voz! que sufoco que é ser um peso inerte, ter meu corpo lavado pelas palavras dos outros e minhas vontades resumidas àquelas biológicas. tento encontrar, nas profundezas oceânicas de meu subconsciente, o garoto que guarda os sonhos. ele os guarda feito Pandora: em uma caixinha que carrega consigo e que não quer ser aberta. por que não quer ser aberta? este querer... será da caixa ou meu? não sei, nas profundezas escuras tudo se confunde. tudo vira nada e nada vira tudo, e eu sou um paradoxo entrando em curto. sou este pane maquinal, o mal-funcionamento de minha capacidade de colocar as coisas em prática. eu sou a teoria dos sonhos (eu sou sempre a teoria), e a busca por autodefinição em meus "eu sou". eu deveria saber que, afinal, falar em 'ser' é só estigmatizar. deveria me preocupar menos.

mas dae que aparece o engenheiro. ele avalia o mal-funcionamento, aponta alguns defeitos de fábrica e conta uma história sobre um tal 'joão-de-barro'. o engenheiro diz que nada pode fazer, que ele não tem o equipamento nem a permissão para intervir diretamente em mim. porém diz que eu deveira ser mais igual ao 'joão-de-barro' - pra que criar raízes? - dizia o engenheiro enquanto acendia um cachimbo do século passado. tragou e soltou a fumaça lentamente, admirou como a fumaça se esvaia no ar e disse que eu também deveria ser mais parecido com a fumaça - olhe bem como as moléculas se desprendem de um todo completo pra se perder na imensidão do mundo, e nem por isso elas sentem medo, não é? - dizia euforicamente - e quem sabe alguma dessas moléculas não chegue a participar de algo ainda maior do que a fumaça de meu cachimbo... quem sabe alguma delas participe do tal efeito estufa ou algo do gênero. o engenheiro ria. eu mexia os olhos, em condescendência. eu sempre condescendo.

ah, que venha a libertação! que venha o ludismo humano: rasguem meus músculos, quebrem meus ossos, libertem minha mente de toda existência estruturada fisicamente! rompam o cordão umbilical, rompam as minhas raízes! e me deem asas, ó deuses, asas para meus sonhos! (por que peço a eles? cadê meus movimentos? cadê minha vontade? será que tenho a imperatividade pra conseguir mudar? )