terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Minha consciência pierrotiana

É aquele velho mal-estar entalado na garganta. Recorro ao petume, bebo fumaça como se fosse remédio caseiro, faço igual aos indígenas antes da comunhão com o sagrado. É um paradoxo no mínimo curioso: os rituais e as crenças que pra outros soam absurdas e ingênuas são a herança que carrego, e absurdo pra mim é todo o resto. Minhas percepções já estão alteradas, caso meus dedos com uma alucinação qualquer, deito meus olhos cansados sobre pretéritos perfeitos e imperfeitos... e mais-que-perfeitos. O bom de viver no passado é não enfrentar o desconhecido. Mas é inevitável, e portanto busco neste transe algum tipo de epifania, uma nova interpretação da realidade, uma direção, qualquer coisa que me permita enfrentar o que está por vir - mas nada aparece. Não sei o que dizer do desconhecido, não sei o que fazer com as coisas que não entendo. Aos poucos sou absorvido por uma realidade dura e crua, um maquinismo de pensamentos e logicidades, sou ridicularizado e torno-me um bárbaro que ainda acredita no amor rústico. O petume como conheço é substituído por algo bem mais aristocrático: chaminés cuspindo fumaça. Ah, a modernidade!

Mudança de cenário. Ando pelas avenidas largas da metrópole de nossos tempos: lojas com luzes piscantes, anúncios espalhafatosos, prédios e mais prédios... A vida até parece perfeita quando se vive neste cosmo pré-fabricado. Estou tão entretido com os concretos que não vejo e esbarro em um desses indesejáveis que estava agachado no chão. Tropeço e caio. O homem corre em meu auxílio pedindo por desculpas com o mais sem jeito dos jeitos. Estou prestes a dizer alguma idiotice quando reconheço o homem. Como não reconhecer uma das mais belas metáforas já criadas? Pierrot tem olhos chorosos e tudo nele denuncia desvario, neurose, esquizofrenia romântica. Pergunto o que ele fazia ali agachado no chão, e ele responde que havia perdido algo de importante valor. Insisto para saber do que se trata. Pierrot, com sua teatralidade e seu exagero inatos, responde que procurava pelo amor que lhe fugiu. E, como em um estalo, Pierrot transubstancia-se em mim. Ah, como pude esquecer? Arlequim, seu alcoviteiro, seu debochador, quando foi que deixei você vencer? Roubou meu amor, roubou o que eu acreditava, e eu meti-me neste ostracismo e nada mais quis enxergar! Aos poucos me acalmo. Não existe lugar na fluidez do mundo que vivo pra ingenuidade e para o amor platônico tipicamente pierrotiano, não é? Mas sempre existirão Arlequins e Colombinas. E talvez Pierrot seja visto como um louco, mas é só porque todos ao seu redor estão insanos e acham isso a coisa mais normal do mundo. Pierrot, ah, como sua lucidez me dói. Pierrot, você é o nó na minha garganta.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O amor em grego

te filo, sofia
filo pedaços de ti para mim
tuas maneiras, teus gestos, tuas frases
tuas escusas, teus carinhos
tua poesia ruim
tudo isto se torna muito meu

te filosofio
crio postulados sobre ti
teu gosto, teu cheiro,
teus cabelos da cor dos olhos
teus olhos, ah, teus olhos!
tudo isto se torna uma reflexão metafísica

Ó, Platão
que mundo de sonhos me deste
Ó, Aristóteles
que paradoxo do ser e estar feliz me mostraste
(quando se é jovem tudo são efemeridades,
até quando durará seu amor que não é amor?
- porque não sei nada, só penso que sei)

Na distância do sonhar tu te tornas uma idelização bonita

e por hoje basta a turbulência do que passas,
deixa a nossa velhice (e a felicidade) pra mais tarde, amor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

síndrome de "locked-in"

a própria existência se apresenta como um cárcere anormal: não sei se minha mente é orquídea, erva-de-passarinho ou cipó-chumbo. só sei da facilidade com que me enraizo a convivências e lugares que vou conhecendo - sou a dependência de meus externos, autonomia sem voz gritada dentro da cabeça. ah, que sufoco que é não ter voz! que sufoco que é ser um peso inerte, ter meu corpo lavado pelas palavras dos outros e minhas vontades resumidas àquelas biológicas. tento encontrar, nas profundezas oceânicas de meu subconsciente, o garoto que guarda os sonhos. ele os guarda feito Pandora: em uma caixinha que carrega consigo e que não quer ser aberta. por que não quer ser aberta? este querer... será da caixa ou meu? não sei, nas profundezas escuras tudo se confunde. tudo vira nada e nada vira tudo, e eu sou um paradoxo entrando em curto. sou este pane maquinal, o mal-funcionamento de minha capacidade de colocar as coisas em prática. eu sou a teoria dos sonhos (eu sou sempre a teoria), e a busca por autodefinição em meus "eu sou". eu deveria saber que, afinal, falar em 'ser' é só estigmatizar. deveria me preocupar menos.

mas dae que aparece o engenheiro. ele avalia o mal-funcionamento, aponta alguns defeitos de fábrica e conta uma história sobre um tal 'joão-de-barro'. o engenheiro diz que nada pode fazer, que ele não tem o equipamento nem a permissão para intervir diretamente em mim. porém diz que eu deveira ser mais igual ao 'joão-de-barro' - pra que criar raízes? - dizia o engenheiro enquanto acendia um cachimbo do século passado. tragou e soltou a fumaça lentamente, admirou como a fumaça se esvaia no ar e disse que eu também deveria ser mais parecido com a fumaça - olhe bem como as moléculas se desprendem de um todo completo pra se perder na imensidão do mundo, e nem por isso elas sentem medo, não é? - dizia euforicamente - e quem sabe alguma dessas moléculas não chegue a participar de algo ainda maior do que a fumaça de meu cachimbo... quem sabe alguma delas participe do tal efeito estufa ou algo do gênero. o engenheiro ria. eu mexia os olhos, em condescendência. eu sempre condescendo.

ah, que venha a libertação! que venha o ludismo humano: rasguem meus músculos, quebrem meus ossos, libertem minha mente de toda existência estruturada fisicamente! rompam o cordão umbilical, rompam as minhas raízes! e me deem asas, ó deuses, asas para meus sonhos! (por que peço a eles? cadê meus movimentos? cadê minha vontade? será que tenho a imperatividade pra conseguir mudar? )

domingo, 30 de outubro de 2011

"- vai ser gauche na vida!"

Ó, tédio de todos os tédios! tédio da vida!
fico envolto em um não-sei-o-que de não sei o que fazer.
as escolhas feitas e não cumpridas
são desfeitas, refaço meus planos
pra entrar em sintonia com coisas que, novamente,
aumentem os meus níveis de serotonina.

Quero ser sempre mais do que fui ontem,
e menos do que serei amanhã.
quero a destreza pra ser quem quero ser.
NÃO ao enfadoso! NÃO ao chato!
não a quem eu seria simplesmente por poder ser,
sem ao menos querer ser.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

cinza

mastigo bolachas de canela e aveia que estavam na minha prateleira como quem mastiga pedaços murchos e mofados de sonho. é engraçado o quanto tudo pode virar uma lembrança distante num passar de instantes, e o quanto tudo vira motivo pra lembrar sem motivo aparente. eu sou um glutão de sonhos e lembranças, vou digerindo tudo que posso, vou engolindo o máximo que posso - logo logo vira tudo ATP nas minhas mitocôndrias, pra se dissipar. é preciso internalizar para depois externalizar, ou sei lá.
minha próxima refeição: lembrei do dia em que tentei roubar suas pupilas para mim. veja bem, suas pupilas eram qualquer coisa próxima do gigantesco, preenchiam a palma de minha mão. eram como aquelas bolas de cristal que eu queria levar pra todo canto. olhos de lua cheia, a porta de entrada para sua alma. e toda íris ornava muito bem com o branco pálido do canto do seu olho e da sua pele, como se fosse feito pra dar ênfase. eu queria ser dono de tudo isso - eu sempre quero feito uma criança. você me encarava com esses olhos quase-marrons-quase-negros, como quem desvenda tudo e diz do que não posso ter. encarar é sempre uma perversão. eu nunca levei jeito pra isso.
o café é um catalisador do processo, pra deglutir tudo mais rápido. encharco a garganta de café e lembro que hoje seus olhos são acinzentados, sua cara é diferente, até sua voz mudou de tom. não sei se foi realmente você quem mudou. talvez mudei eu. tudo é muito relativo.

domingo, 16 de outubro de 2011

encontro

ela estava sentada na mesa da frente de frente para mim. usava um daqueles óculos grandes de armação grossa os quais denunciavam que ela indiscutivelmente havia lido mais livros do que eu: os óculos eram um exagero intelectual. segurava a taça de vinho na altura dos ombros enquanto parecia falar algo interessantíssimo para a pessoa à sua direita. tinha uma risada aristocrática que ecoava abafada pelo salão, sempre ria nas horas certas - e como ria nas horas certas. do lado esquerdo dela estava um gentleman que exalava tédio: parecia ser profundo feito uma bacia, daqueles que falavam sobre imóveis luxuosos, iates, o verão em Cancún ou a bota que comprou por 60 euros na África e que era impermeável. aquele cara era o domingo de todo mundo. e ela sabia disso.
mas então que de repente, e não mais que de repente, ela se levantou para ir embora. e eu pude ver que ela usava uma daquelas saias floridas que sei lá porque me atraem tanto, é um negócio que fica bem. acompanhei-a com os olhos enquanto saía do salão. ela, por um centésimo de segundo, fitou-me com seus olhos míopes através da janela de seus óculos. ela sabia de tudo. mas foi embora mesmo assim, e me deixou de coração na mão.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

fico desconfortável por me sentir esvaziado de mim mesmo, eu me sinto insuficiente em todos os gestos, em todas as palavras. outro dia estava ouvindo os hermanos de um jeito que fazia tempo que não escutava quando avistei da minha janela o amor esparramado na calçada de casa. beijei seus joelhos e disse que amores e amoras não crescem por aqui - é o clima frio, seu e da cidade. saí pelas ruas. saí com as pessoas tropeçando em mim, procurando calores que suprissem minha falta de um agasalho. veja bem, o agasalho é só uma metáfora. o acaso de alguns sorrisos seria suficiente, ou então esbarrar com aquela garota de sábado passado que agora estava com um corte de cabelo novo. algumas conversas aleatórias, algumas mentiras contadas e volto pra casa. deito-me ao seu lado e fico igual meu criado: mudo. você é engolida pela cama aos poucos e logo desaparece. acendo um incenso pra disfarçar seu cheiro e medito sobre o sentimento desgarrado, sobre a falta e sobre meu contentamento descontente. aquele dia não amanheceu. agora você aparece de quando em quando pra perguntar como estou, e eu sempre tenho duas respostas, coisa de dualismo psicofísico: nós somos sempre dois. nunca pensei que o coração se contentaria e que a cabeça fosse ficar sem entender nada. é tão mais difícil convencer minha cabeça. a casa sem você vai desabando aos poucos - se não existe lógica, então as coisas fora de lugar devem fazer muito mais sentido. e fazem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Café, mobília e boa sorte

As frases vão fibrilando na garganta
em um caótico calar de bocas.
Não sou mais quem conjuga meus verbos,
perco-me em meio a pronomes: eu, tu, ele...

Verto xícaras de café compulsivamente:
que lânguido estar estar sem ti.
Meus músculos estão amarrados
aos livros da prateleira, às histórias pra contar.

Os móveis da sala já me conhecem,
a poltrona abraça-me em delírios:
tranforma-se em divã improvisado.
Filtro-me em catarses cinematográficas.

Só espero agora o calar de mentes,
os dentes pararem de ranger.
E quem sabe aquele rei esteja certo,
mas prefiro acreditar em Pullovers:

Tudo que eu sempre sonhei é só sonho,
mas foi bom estar ali.
Agora é pura questão de me acostumar,
de me perder novamente em progressões.

E na cidade os carros passam tão altos
que não consigo nem ao menos escutar
Cartola no fone do celular.
Tudo de triste ensurdecido, trancado.

As razões me fogem, me escapam.
Só percebo que, no final das contas,
não tem equação que explique,
não tem lógica cartesiana.

Faltou gosto de perigo na boca
e um pouco de hiperbolismo em seus gestos.
Faltou um tipo de exagero diferente,
não teve o suficente da gente.

Faltou mar de ressaca,
qualquer coisa que invadisse sem piedade.
Mas tiveram os olhos,
aqueles de Capitu.

Vou oxidando lembranças.
Não vejo torpor nem pranto,
só manchas daquelas que não saem.
Tá tudo manchado.

sábado, 17 de setembro de 2011

Triste fim de uns sem nomes

Falha tentativa de construir seus atos
com meus parafusos frouxos, antipragmáticos.
Que desculpa terei eu
para beliscar sua moral, apertar seus botões?

Faço serão esperando raiar de novo
os dias daqueles dias - e que dias!
E nesse aguardo guardo comigo
toda instiga, todo icing on the cake.

Em aprofundar massas duvidosas
invade o gosto amargo substituto
sem cor nem sons: surda escuridão.

Provoco estupor e tabagismos
e derramo fumaça líquida em suas roupas.
Aonde foi parar nosso créme de la créme?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sobre as coisas que me escapam pelos dedos

É uma idiossincrasia estarrecedora essa coisa de acreditar em platonismos, parece que a grama do vizinho é sempre mais verde - é uma cegueira interior, um eterno olhar pra fora. Fico meio paranoico com as coisas que vejo sem ver, com esse molde maniqueísta da vida - ou tá bom demais ou tá tudo errado. Tijolo por tijolo construi essa fortaleza de absurdos e fantasias onde não existe lugar para um pouco de diplomacia ou bom-senso. Sempre quis ser aquele casal de velhinhos que vai ao parque juntos, que tem uma rotina gostosa e que não se preocupam mais com problemas do coração - bom, pelo menos do coração simbólico. Deve ser confortável não ter preocupações, cegar a própria desconfiança e ter saldo positivo no banco pra fazer algumas viagens pelo mundo. Ou então só estou constantemente descontente mesmo, não sei. Gostaria de, semana que vem, entrevistar o casal do parque: a parte mais bonita da terceira idade é escutar suas histórias, pra que perder meu tempo com essa desconstrução de mundo que Hollywood propõe? Perguntaria à eles como se conheceram, há quanto tempo estão juntos, pediria separadamente pra cada um deles qualidades e defeitos do outro só pra entender que não precisa ser perfeito, que só precisa dar certo. Por fim eu perguntaria qual era o segredo deles - afirmo com toda certeza que o segredo da felicidade deles é a pergunta metafísica que todos nós deveríamos estar tentando responder: o começo, o meio e o fim do homem estão essencialmente em sua felicidade - essa felicidade que Aristóteles já dizia milênios atrás que só seria atingida naquele momento em que eles estavam, quando a idade já batia à porta e a vida extravasava de seus poros em sorrisos mais que sinceros. Pra mim essa é a lógica do mundo. Pena que me falte lógica. Pena que eu seja tão jovem.
Não que ser jovem não tenha lá suas vantagens: estou sempre aprendendo coisas novas e a falta de uma rotina está sempre enriquecendo os meus dias; posso desenhar o que está por vir e tenho sempre alguns acessos de felicidade; minha casa está sempre revirada e posso botar as coisas de cabeça pra baixo; não sou atado pela vida. Mas as atas da vida oferecem algum tipo de conforto, de segurança, sem falar que ser jovem também é carregar um fardo. Bukowski dizia que o tempo é a cruz de todos nós. Minha interpretação disso é que carregamos o peso do quanto dura nossa existência - quanto mais perto do fim e de finalizar o que tínhamos pra fazer menor fica o fardo. E então chega um ponto em que o fardo simplesmente deixa de existir ou fica pesado demais pra continuarmos carregando - é depreender-se ou se exaurir. Só espero saber a medida certa de cada coisa, ser menos os meus polos. Espero não ser jovem para sempre. Espero mesmo que nós não nos acabemos antes de tudo acabar. E quando chegar o momento, deixa eu ir um pouco antes, ok? Que eu não sei lidar bem com a solidão.

domingo, 11 de setembro de 2011

Canção do Exílio*

Perto de casa tem um parque, tem eucaliptos
e não sei ao certo que pássaros cantam lá.
Só sei (e não soube sempre)
do cheiro de saudade da minha cidade,
da falta amarga que me invade em brigadas.
Lembro das bicicletas, das quedas,
de apoiarmos em abraços embriagados
e ainda assim cairmos em tédio.

Sinto falta das conversas atropeladas,
de enxergar lógica em palavras embaralhadas.
Minhas sinapses extendem-se até seus corpos,
até os balões imaginários de suas falas.
Sinto-lhes acoplados à minha pele,
carrego-lhes infantilmente para onde for
e derramo pedaços de vocês em minhas viagens.
Minha verve fica abalada.

Aqui longe o silêncio é clautrofóbico.
Insisto na hipérbole de estar abandonado,
engasgo com as palavras, vou sufocando de leve:
crise asmática-lexical.
Devo ser por dentro um velho chato,
um conservadorzinho irritante.
Sou o péssimo hábito de reclamar,
esse eterno relinchar.

Vou enfeitando vocês com minha saudade.
Tenho uma necessidade louca de euforia,
de pessoas que explodam em felicidade,
de ligações inesperadas mais que esperadas.
Preciso encher a casa, a cara

Preciso
o
tempo
todo,
sou o cúmulo das necessidades.

sábado, 3 de setembro de 2011

Luzes

Aquela incapacidade de gritar à plenos pulmões, de botar pra fora o turbilhão que tinha dentro de si, era uma decepção para Melissa. Ela sempre fora reservada demais, correta demais, e agora estava condenada ao que todos pensavam dela. Tentava buscar outras maneiras de materializar seus medos e anseios: pendurava-se pela janela, quase se jogando, pra dizer ao mundo que aquela vertigem que ela sentia era sufocante. E ficava naquele êxtase terapêutico, com os passantes olhando para ela sem entender o que se passava. Ah, se pudessem compreender, se Melissa ao menos pudesse falar. Mas ela era muda, ou melhor, estava muda. Ela só fazia sentido para seus próprios tecidos, já possuia uma lógica própria. - Será que é assim que se enlouquece? - perguntava para si mesma. Pessoas decentes não se preocupariam tanto com a desaprovação, não estariam fazendo essa tempestade em copo d'água. Melissa não é decente. Esse tipo de silogismo fazia dela uma pessoa incoerente, uma anomalia na sociedade em que vivia.
E talvez quando ela decidisse falar já não fizesse mais sentido, a privação que lhe fora imposta e a qual ela inertemente deixou ser esse tempo todo tranformava-se em adaga cortante, atrofiava sua própria existência. Morar em suas filosofias não era uma resposta saudável. Mas Melissa descobriu que, além de se pendurar pela janela, também podia escrever. Podia transformar os devaneios que tinha deitada no chão frio de seu quarto em algo que existisse fora de sua cabeça, fora de suas paredes. Poderia, dessa forma, caminhar entre o seu microuniverso interior e o macrouniverso que a assustava tanto, com a proteção fornecida por seu eu lírico. Melissa dizia tudo sem dizer nada, e seu grito mudo tranformava-se em um estilo literário: era loucura artística ecoando pela sala.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rotulagem

Trago à tona átomos alheios
em confluência, efusão molecular.
Derramo sobre ti palavras roubadas
cuspindo um regorgito de mal-estar ideológico.

O apartamento tem cara de nada.
Azulejo egos despedaçados
do chão ao teto de minha cabeça.

Sou pós-moderno,
Narciso de espelho rachado.
Tenho moral esquizofrênica,
turbidez fluida existencial.

Mutantes, somos todos mutantes.
Herdeiros do Manifesto Antropofágico,
cadê a revolução que nos criou?

Sistematicamente me esqueço de tudo.
Tudo depende, nada confirma.
Estereótipo do crítico do estereótipo,
marionete de meus próprios hábitos.

Aponto desapontamentos redundantes,
faço questão de não ter questão alguma.
Abro mão de preconceitos, viro pedra.

E que tipo de existência é essa
dos imensos bailes de máscara, imensos carnavais?
Moralismos jogados na batedeira
sintetizando um pseudo-tudo, um nada sistemático.

Sou o eu dentro do eu dentro do eu,
uma boneca russa de personas contradizentes,
a somatória de tudo o que não sou.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Ou Werther ou nada"

Trago o trago de necessidade
nessa cidade que desconstroi o dia todo.
Nada ela em um fluxo, impermeável à distância,
distante mesmo mesmo, a mesma de uns amores atrás.

E o Plexo Solar arde em imediatismos
ulcerando a alma que implora calma.
Implodo em um silêncio claustrofóbico,
em um medo do medo de não ser.

Catalogando ossos diversos,
repousando em sua clavícula.
Sou cutícula insistentemente retirada
do aconchego de seus dedos.

Ciclos, círculos e circos,
roda-gigante de relações.
A imperatividade de seus ombros
contrapõe a subjuntividade dos meus.

A fumaça infinita, a névoa
da cidade fria, da sua pele fria.
Ser, estar ou parecer?
Ser ou não ser?

sábado, 9 de julho de 2011

A plantação

Era tudo consequência.

A cabeça de Seu Zé torrava embaixo do sol enquanto ele carpia o terreno. Era uma tarefa meticulosa, desnudava a terra com o carinho de um amante e deixava apenas uma fina camada protetora. Não tinha nada a ver com aquela neo-baboseira de técnicas de plantio, ah não. Veja bem, Seu Zé sabia que uma amante toda nua não tem charme, e que o importante era exibir apenas o suficiente para dar asas à imaginação de quem olha.

José já teve muitos amores e alguns casamentos infelizes. Hoje é sozinho, só ele e a chácara na Nova Alta Paulista. José sempre amou demais, amou tanto que seu amor não coube em ninguém.

Zézinho não teve infância. Desde cedo trabalhava para ajudar com a renda em casa, a vida inteira dele só soube trabalhar. Não teve estudo decente, sempre trabalhos manuais que lhe castigavam agora na velhice.

Zézinho e José refletem no Seu Zé de hoje: de tanto trabalhar tem no trabalho sua única alegria, e trabalha com amor.
Ele tem agora um último projeto de vida, um projeto um tanto ambicioso aos olhos de quem duvida demais. Seu Zé explica com a voz rouca que cometera erros demais em sua vida, que não pudera realizar vontades por falta de condição; e as rugas de Seu Zé completam dizendo que está castigado, que está cansado demais - e o meu tempo, cadê? esse tempo não volta. Afinal, o mundo é um moinho e ninguém escapa dele.
Seu Zé, portanto, cultiva agora um tipo de planta que poucos haviam tentado plantar antes. Ele tem, nos fundos de casa, uma plantação de sonhos. "Ah, mas do que se trata isso?", dirão os incrédulos.

Vou tentar explicar melhor. Outro dia Seu Zé encontrou algumas sementes de sonho em sua cabeça, coisa que nunca teve oportunidade de crescer por causa das condições ruins que tinha por lá, e guardou-as em uma caixa para decidir o que fazer.
Um dia qualquer, conversando com o amigo Idílio, descobriu que haviam descoberto uma maneira de cultivar essas coisas em terra firme, - parece depender da qualidade da semente e do quão sôfrego de realizar aqueles sonhos está quem as plantar, mas de resto é só cuidar igual semente qualquer - disse o amigo, jurando não ser brincadeira.
Bom, Seu Zé confiava em Idílio, amigo de todas as horas desde que era muito pequeno. Portanto investiu na engenhosa plantação. Aparentemente cada planta daquelas sementes irá crescer e dar um único fruto cada, o fruto maduro era o sonho prontinho. Seu Zé trabalhou duro para que aquela fosse a melhor plantação de sonhos que alguém poderia ter.

Ah, mas como aqueles 6 meses demoraram pra passar. O tempo realmente é a cruz de todos, e agora ainda mais. Finalmente as plantas antigiram o máximo de crescimento, e deram frutos.
Mas os frutos não amadureciam, ficavam verdes e caiam no chão, podres. Seu Zé começou a entrar em desespero - a minha vida, os meus sonhos, cadê? -. Enterrou-se na plantação procurando por alguma planta que tivesse dado um fruto maduro, uma que fosse, e não encontrava nada. Seu Zé deitou no meio da sua plantação, o céu estava em prantos por ele, agonizava em trovoadas. Seu Zé desmoronava.
Até que o céu engarrafado de nuvens negras deixou passar um raio de Sol que despertou o Zé. Ele olhou para o caminho que o raio luminoso indicava, percorreu-o adentrando ainda mais na plantação.
O que encontrou foi o suficiente para o fazer chorar, derramar lágrimas que escorriam pelas rugas cansadas do velho homem. Ah, mas que visão! que visão! um único fruto maduro na plantação.
Zé agarrou o fruto. Ficava admirando aquela cor avermelhada, sentia o cheiro. Ah, que cheiro delicioso possuem os sonhos. Zé arranhava com os dentes a fruta, sem mordê-la, apenas apreciando aquele momento.
Finalmente Zé mordeu a fruta, adentrou no sonho. E só o que se ouvia eram gargalhadas e mais gargalhadas; o céu agora desempedido e completamente azul, revelando um horizonte que não tinha mais limites. E o Zé feliz ria alto, morria de tanto rir.

domingo, 3 de julho de 2011

O amor recíproco infeliz

Olhou-a com aqueles olhos míopes e curiosos, olhos que tranformavam tudo em abstração, que abstraiam tudo em uma reflexão desajeitada. Ela contorcia o lábio em um esforço mudo para se manter calma e centrada, precisava de paciência.
Por causa do tempo, ela encontrava-se cansada do jeito efusivo e dinâmico dele, das maneiras exagerados, de toda a gesticulação pra falar, da impulsividade de querer perambular pela cidade em um sábado à noite sem querer chegar a lugar nenhum, é um absurdo - pensava ela - as ruas não são mais as mesmas, as ruas não são seguras para mim e meu amor. Não acreditava mais nas teorias sobre a relatividade que ele insistia em contar para ela, estava cansada de toda a inconstância dos últimos 2 anos. Ela, como todo cadáver adiado, tinha chegado em um ponto que precisava de uma rotina, de uma sequência lógica para a vida. Precisava ser entendida.
Ele frustrava-se. Não tinha paciência para os algebrismos dela, as neuras sobre logicidade, as progressões para o futuro, aquela vontade de estagnar a vida, de ter dias mais iguais. Ele tinha tanto ainda para fazer, tanto para ver. E ela insistia em lhe tentar arrumar o cabelo, a cabeça, a vida.
Ela queria montar quebra-cabeças, ela via o mundo em geometrias, ela era em geometrias, tinha o cérebro quadrado. Ela arquitetava tudo. Já ele se perdia em labirintos, enterrava-se em curvas. Ele balbuciava um léxico fragmentado de corações partidos enquanto ela ria da mania de hiperbolismos dele. Tudo que ela queria era tocar um samba, um choro qualquer, e ele ria junto condescendendo que exagerava mesmo.
E, desapercebidamente, eles constituíam juntos um só coração artificial: ela era a sístole, ele era a diástole. Juntavam os excessos opostos um do outro e formavam um único organismo, atingiam um grau de sintonia, de moderação em relação a tudo. Ela estampava os dentes brancos feito a pele, arranhava-o com os dedos finos; ele denunciava felicidade em um sorriso torto, em dedos que entrelaçavam os dela, em maneiras sem jeito de dizer que gostava daquela mistura.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

E o relógio explodiu a caixa toráxica deles dois

- Aumente o esquecimento.
- Oi?
- Aumente o aquecimento, oras. Essa casa é toda fria.
- Não dá. A gente quebrou ele, não se lembra?
- O aquecedor?
- Também.
- Podíamos consertar, não acha?
- Pra quê? Vai continuar quebrando, esse tipo de coisa não tem remendo.
- Não tem?
- Não. Nem se sustenta mais, olhe bem.
- Hum.
- Mais fácil tentar achar um novo. Agora vende no mercado, hoje em dia tem de tudo nas prateleiras.
- Até eu e você, você e eu.
- Quê?
- 'Eu e você, você e eu', aquele livro da Martha Mendonça e do Nelito Fernandes, outro dia encontrei numa prateleira do mercado.
- Haha! Lembrei do Maia. Divertirmo-nos, jantar, dançar e depois dormir.
- Boa noite.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Rest in pieces

Destrincharam seu corpo, espalharam suas ideologias por aí como se fosse um clichê bonito, transformaram sua melancolia em hollywoodiana. Você é uma âncora pra uma geração que nasceu toda errada, você é um refúgio. Não precisa banalizar, mas você conseguiu mostrar que perder o controle tem lá sua beleza, conseguiu mostrar o quão relativo e paradoxal o amor consegue ser para todos nós. É uma visão sincera e realista que você deixou marcada na pele tatuada de quem difunde suas ideologias, nas ondas daquela estampa dos prazeres desconhecidos.


domingo, 8 de maio de 2011

Descompasso

Talvez a solução fosse enterrar
a cabeça aérea no travesseiro,
mergulhar no mundo que desenhava
na contracapa de cadernos velhos,
nos traçados imaginários de sua cabeça
que borracha nenhuma apagaria.

Acordada,
a cabeça é um tanque de pensamentos engaiolado
uma prisão de coisas possíveis e corretas
tomar xícaras e xícaras de café parece um paradoxo estranho
para quem não quer mais ficar
acordado.

O mudo-mundo cospe todo dia em nossa face
que somos livres, como pássaros desengaiolados,
mas até quando é liberdade
seguir as grandes massas, as grandes migrações?
Ter um mundo de possibilidades
que de nada nos serve?

Eu e você deveríamos ser pássaros anárquicos
atravessar o espelho, desparafuzar o mundo,
desordinarizá-lo, tirar a vida do eixo
só pra ver o que aconteceria,
pra ver até quando este imaginário aguentaria
fazer da rotina dos loucos a nossa própria rotina.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Campo dilatado"

Os pontos de fuga misturavam-se,
planos bidimensionais e tridimensionais
criavam um espetáculo de sinfonia maluca
em sua cabeça desorientada.

A cidade era-lhe um sinônimo,
um gigante de concreto e aço
com caos correndo em suas ruas,
veias e artérias entupidas.

Pulmões carregados,
os escapamentos cuspindo fumaça,
e os prédios arranhando o céu
feito disco de vinil.

Enterrava a falange das mãos no crânio
tentando decifrar aquela esfinge
que ameaçava devorá-lo em becos escuros,
becos de sua mente, becos dele mesmo.

Escorregava os pés pelos corredores apertados,
pelas escadarias espirais, labirintos pessoais.
Em meio a microuniversos desenhava trajetos,
um mundo de expectativas todas novas.

Detonava a cabeça com suas filosofias,
ainda tinha insegurança no andar
e constantemente pisava em falso
por entre os espaços de sua respiração.

Mas parecia se encontrar
por entre as pilhas de livros espalhados pela casa,
por entre o vão da estante de filmes.
Parecia encontrar-se nela.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Tom, the rain dog

E o concreto lhe invadia feito onda, as pernas enterradas até a altura dos joelhos, os pés despedaçados, estava cansado. A vida era-lhe um retrato surrealista de mãos contorcidas e faces deformadas, vivia dentro de um relógio como ponteiro, andando em círculos e tentando justificar que iria chegar em algum lugar eventualmente, era rotina justificável. E queria enlouquecer, fugir de seu mundo de 360 graus, expandir; a auto-destruição era um preço baixo a pagar em nome de uma boa história, em nome de uma boa biografia. Mas havia dado tantas voltas que o tempo havia passado, e agora estava ele, um velho beberrão de tosses doloridas, de ideologias e gostos ultrapassados, o rosto cheio de rugas, solitário em um bar ouvindo um albúm de 1985. Sua vida se resumia a uma imensa quantidade de relíquias, de discos antigos e prateleiras de livros, uma coleção bem vinda a qualquer sebo da cidade. Tinha essa ideologia de vida que nunca teve coragem de botar em prática, preferindo sempre a caretice das coisas seguras, o enfado desprezível. E, ridiculamente, se apegava a dizeres literários; seus olhos brilhavam quando lia o trecho em que Leminski dizia: 'Pense e te apareça, senão eu te invento por toda a eternidade'. E o relógio que estava prestes a parar ganhava corda e continuava girando em seu mundinho de ilusões.

sexta-feira, 11 de março de 2011

It's toasted

Sentava nos bancos detonados da rodoviária olhando as pessoas e se perdia em meio a psicologias deduzidas e estereótipos pré-fabricados, qualquer perfil que pudesse montar pra passar o tempo. E quase sempre acabava se apaixonando por alguma desconhecida, às vezes por causa de um tênis, ou a banda estampada na camiseta, ou qualquer coisa do tipo. Não queria ser levado a sério, se apegava irrealisticamente a coisas superficiais como um passatempo, como uma fuga do ordinário. E, mesmo não querendo admitir, se sentia intoxicado pelas ilusões que ele mesmo criava, se sentia exilado de sua própria realidade, idealizando coisas que não conhecia em detrimento de realidades confortáveis. Esfacelava a moralidade com as mãos, deixava o seu vazio ser preenchido por histórias e contos. O gosto de vermelho descia amargo, preenchia seus pulmões, aliviava todo peso de existir. Só mais duas horas até o circular da madrugada chegar, esperava impacientemente.

segunda-feira, 7 de março de 2011

One more cup of coffee

Saiu apressadamente, quase tropeçando nos paralelepípedos da calçada. Chegou do outro lado da rua, entrou por uma porta e ficou feliz por ver o lugar vazio. Olhou para o atendente do outro lado do balcão e finalmente disse o que estava entalado em sua garganta na última hora: - Um café, por favor. Era só mais um dos tantos exageros que tinha, dos tantos vícios. Moderação sempre pareceu uma desculpa repugnante para não ter uma vida. Vícios e defeitos faziam o interesse dele crescer, queria que a vida dele fosse uma imensa tragédia shakespeariana... Não suportaria que fosse uma comédia, não mesmo. Tomou o primeiro gole de café e aquilo queimou sua garganta deliciosamente; se não tivesse aquele café sem açucar pra tomar seu dia nunca começaria direito. E seu dia seguia desajeitadamente, mascando chicletes sem gosto, fumando cigarros pela metade e apagando na sola de seu All Star, andando pra lá e pra cá, o céu nublado e as arquiteturas que ele insistia em admirar. E sentia orgulho de tudo aquilo, e sentia orgulho da vida desajeitada, do andar bêbado que era o ritmo que levava, e dos tropeções que ninguém estava lá para ver.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Manic Depression

Tenho esse retrato enfadonho de vida, de noites rotineiras bebendo, dos mesmos rocks sujos, dos mesmos cigarros amargos, das mesmas pessoas. Ah, as pessoas. Sabe, nunca foi questão de conhecer uma multidão delas, era mais questão de conhecer algumas mais interessantes, um pouco mais de intimidade não faria mal a ninguém. É, acho que eu sinto mesmo falta da intimidade. Ser contradição parece nó cérebral, e gosto mesmo de paradoxos, eu gosto de companhias e gosto de solidão, gosto muito de opostos. Apesar de odiar tanto rotinas, nunca serei tão expontâneo quanto gostaria. Acho que eu preciso mesmo de alguém pra me ajudar a ser menos eu mesmo, acho que preciso mesmo de alguém pra me salvar da rotina dos dias úteis.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Garota estereótipo

Não que não gostasse dela, pensou consigo enquanto procurava no armário algo para comer. Ele simplesmente não suportava o fato dela representar a quebra de todos os estereótipos e expectativas que tinha, não gostava daquela vida que parecia a de um casal que estava junto há mais de vinte anos, aquela falta de idealização ridiculamente o incomodava. O jeito dela falar, de andar, até mesmo de beijá-lo, lhe causava repugna. Pensou que deveria ter problemas de intimidade, ou que pelo menos tinha um péssimo gosto para garotas, um gosto masoquista. Sempre se apaixonava pelos tipos mais improváveis, e se apegava facilmente à pessoas que estavam simplesmente lhe dando atenção, e que muitas vezes nem se importavam com ele. As pessoas o entediavam com muita facilidade, achava a maioria das garotas simplesmente desinteressante, buscava em outras pessoas uma fuga pra monotonia de sua vida mesmo sabendo que seria inútil; santas do pau oco e garotas problemáticas não eram a solução para sua rotina, apesar de achá-las muito mais interessantes do que quaisquer outras garotas. Queria o clichê e o blasé, tudo junto e misturado. Deu mais uma olhada no armário, nada ali abria seu apetite. Pra falar a verdade, nada ali lhe interessava. Precisava ir logo.