mastigo bolachas de canela e aveia que estavam na minha prateleira como quem mastiga pedaços murchos e mofados de sonho. é engraçado o quanto tudo pode virar uma lembrança distante num passar de instantes, e o quanto tudo vira motivo pra lembrar sem motivo aparente. eu sou um glutão de sonhos e lembranças, vou digerindo tudo que posso, vou engolindo o máximo que posso - logo logo vira tudo ATP nas minhas mitocôndrias, pra se dissipar. é preciso internalizar para depois externalizar, ou sei lá.
minha próxima refeição: lembrei do dia em que tentei roubar suas pupilas para mim. veja bem, suas pupilas eram qualquer coisa próxima do gigantesco, preenchiam a palma de minha mão. eram como aquelas bolas de cristal que eu queria levar pra todo canto. olhos de lua cheia, a porta de entrada para sua alma. e toda íris ornava muito bem com o branco pálido do canto do seu olho e da sua pele, como se fosse feito pra dar ênfase. eu queria ser dono de tudo isso - eu sempre quero feito uma criança. você me encarava com esses olhos quase-marrons-quase-negros, como quem desvenda tudo e diz do que não posso ter. encarar é sempre uma perversão. eu nunca levei jeito pra isso.
o café é um catalisador do processo, pra deglutir tudo mais rápido. encharco a garganta de café e lembro que hoje seus olhos são acinzentados, sua cara é diferente, até sua voz mudou de tom. não sei se foi realmente você quem mudou. talvez mudei eu. tudo é muito relativo.
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