ela estava sentada na mesa da frente de frente para mim. usava um daqueles óculos grandes de armação grossa os quais denunciavam que ela indiscutivelmente havia lido mais livros do que eu: os óculos eram um exagero intelectual. segurava a taça de vinho na altura dos ombros enquanto parecia falar algo interessantíssimo para a pessoa à sua direita. tinha uma risada aristocrática que ecoava abafada pelo salão, sempre ria nas horas certas - e como ria nas horas certas. do lado esquerdo dela estava um gentleman que exalava tédio: parecia ser profundo feito uma bacia, daqueles que falavam sobre imóveis luxuosos, iates, o verão em Cancún ou a bota que comprou por 60 euros na África e que era impermeável. aquele cara era o domingo de todo mundo. e ela sabia disso.
mas então que de repente, e não mais que de repente, ela se levantou para ir embora. e eu pude ver que ela usava uma daquelas saias floridas que sei lá porque me atraem tanto, é um negócio que fica bem. acompanhei-a com os olhos enquanto saía do salão. ela, por um centésimo de segundo, fitou-me com seus olhos míopes através da janela de seus óculos. ela sabia de tudo. mas foi embora mesmo assim, e me deixou de coração na mão.
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