quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rotulagem

Trago à tona átomos alheios
em confluência, efusão molecular.
Derramo sobre ti palavras roubadas
cuspindo um regorgito de mal-estar ideológico.

O apartamento tem cara de nada.
Azulejo egos despedaçados
do chão ao teto de minha cabeça.

Sou pós-moderno,
Narciso de espelho rachado.
Tenho moral esquizofrênica,
turbidez fluida existencial.

Mutantes, somos todos mutantes.
Herdeiros do Manifesto Antropofágico,
cadê a revolução que nos criou?

Sistematicamente me esqueço de tudo.
Tudo depende, nada confirma.
Estereótipo do crítico do estereótipo,
marionete de meus próprios hábitos.

Aponto desapontamentos redundantes,
faço questão de não ter questão alguma.
Abro mão de preconceitos, viro pedra.

E que tipo de existência é essa
dos imensos bailes de máscara, imensos carnavais?
Moralismos jogados na batedeira
sintetizando um pseudo-tudo, um nada sistemático.

Sou o eu dentro do eu dentro do eu,
uma boneca russa de personas contradizentes,
a somatória de tudo o que não sou.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Ou Werther ou nada"

Trago o trago de necessidade
nessa cidade que desconstroi o dia todo.
Nada ela em um fluxo, impermeável à distância,
distante mesmo mesmo, a mesma de uns amores atrás.

E o Plexo Solar arde em imediatismos
ulcerando a alma que implora calma.
Implodo em um silêncio claustrofóbico,
em um medo do medo de não ser.

Catalogando ossos diversos,
repousando em sua clavícula.
Sou cutícula insistentemente retirada
do aconchego de seus dedos.

Ciclos, círculos e circos,
roda-gigante de relações.
A imperatividade de seus ombros
contrapõe a subjuntividade dos meus.

A fumaça infinita, a névoa
da cidade fria, da sua pele fria.
Ser, estar ou parecer?
Ser ou não ser?