É uma idiossincrasia estarrecedora essa coisa de acreditar em platonismos, parece que a grama do vizinho é sempre mais verde - é uma cegueira interior, um eterno olhar pra fora. Fico meio paranoico com as coisas que vejo sem ver, com esse molde maniqueísta da vida - ou tá bom demais ou tá tudo errado. Tijolo por tijolo construi essa fortaleza de absurdos e fantasias onde não existe lugar para um pouco de diplomacia ou bom-senso. Sempre quis ser aquele casal de velhinhos que vai ao parque juntos, que tem uma rotina gostosa e que não se preocupam mais com problemas do coração - bom, pelo menos do coração simbólico. Deve ser confortável não ter preocupações, cegar a própria desconfiança e ter saldo positivo no banco pra fazer algumas viagens pelo mundo. Ou então só estou constantemente descontente mesmo, não sei. Gostaria de, semana que vem, entrevistar o casal do parque: a parte mais bonita da terceira idade é escutar suas histórias, pra que perder meu tempo com essa desconstrução de mundo que Hollywood propõe? Perguntaria à eles como se conheceram, há quanto tempo estão juntos, pediria separadamente pra cada um deles qualidades e defeitos do outro só pra entender que não precisa ser perfeito, que só precisa dar certo. Por fim eu perguntaria qual era o segredo deles - afirmo com toda certeza que o segredo da felicidade deles é a pergunta metafísica que todos nós deveríamos estar tentando responder: o começo, o meio e o fim do homem estão essencialmente em sua felicidade - essa felicidade que Aristóteles já dizia milênios atrás que só seria atingida naquele momento em que eles estavam, quando a idade já batia à porta e a vida extravasava de seus poros em sorrisos mais que sinceros. Pra mim essa é a lógica do mundo. Pena que me falte lógica. Pena que eu seja tão jovem.
Não que ser jovem não tenha lá suas vantagens: estou sempre aprendendo coisas novas e a falta de uma rotina está sempre enriquecendo os meus dias; posso desenhar o que está por vir e tenho sempre alguns acessos de felicidade; minha casa está sempre revirada e posso botar as coisas de cabeça pra baixo; não sou atado pela vida. Mas as atas da vida oferecem algum tipo de conforto, de segurança, sem falar que ser jovem também é carregar um fardo. Bukowski dizia que o tempo é a cruz de todos nós. Minha interpretação disso é que carregamos o peso do quanto dura nossa existência - quanto mais perto do fim e de finalizar o que tínhamos pra fazer menor fica o fardo. E então chega um ponto em que o fardo simplesmente deixa de existir ou fica pesado demais pra continuarmos carregando - é depreender-se ou se exaurir. Só espero saber a medida certa de cada coisa, ser menos os meus polos. Espero não ser jovem para sempre. Espero mesmo que nós não nos acabemos antes de tudo acabar. E quando chegar o momento, deixa eu ir um pouco antes, ok? Que eu não sei lidar bem com a solidão.
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