Aquela incapacidade de gritar à plenos pulmões, de botar pra fora o turbilhão que tinha dentro de si, era uma decepção para Melissa. Ela sempre fora reservada demais, correta demais, e agora estava condenada ao que todos pensavam dela. Tentava buscar outras maneiras de materializar seus medos e anseios: pendurava-se pela janela, quase se jogando, pra dizer ao mundo que aquela vertigem que ela sentia era sufocante. E ficava naquele êxtase terapêutico, com os passantes olhando para ela sem entender o que se passava. Ah, se pudessem compreender, se Melissa ao menos pudesse falar. Mas ela era muda, ou melhor, estava muda. Ela só fazia sentido para seus próprios tecidos, já possuia uma lógica própria. - Será que é assim que se enlouquece? - perguntava para si mesma. Pessoas decentes não se preocupariam tanto com a desaprovação, não estariam fazendo essa tempestade em copo d'água. Melissa não é decente. Esse tipo de silogismo fazia dela uma pessoa incoerente, uma anomalia na sociedade em que vivia.
E talvez quando ela decidisse falar já não fizesse mais sentido, a privação que lhe fora imposta e a qual ela inertemente deixou ser esse tempo todo tranformava-se em adaga cortante, atrofiava sua própria existência. Morar em suas filosofias não era uma resposta saudável. Mas Melissa descobriu que, além de se pendurar pela janela, também podia escrever. Podia transformar os devaneios que tinha deitada no chão frio de seu quarto em algo que existisse fora de sua cabeça, fora de suas paredes. Poderia, dessa forma, caminhar entre o seu microuniverso interior e o macrouniverso que a assustava tanto, com a proteção fornecida por seu eu lírico. Melissa dizia tudo sem dizer nada, e seu grito mudo tranformava-se em um estilo literário: era loucura artística ecoando pela sala.
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