segunda-feira, 7 de março de 2011
One more cup of coffee
Saiu apressadamente, quase tropeçando nos paralelepípedos da calçada. Chegou do outro lado da rua, entrou por uma porta e ficou feliz por ver o lugar vazio. Olhou para o atendente do outro lado do balcão e finalmente disse o que estava entalado em sua garganta na última hora: - Um café, por favor. Era só mais um dos tantos exageros que tinha, dos tantos vícios. Moderação sempre pareceu uma desculpa repugnante para não ter uma vida. Vícios e defeitos faziam o interesse dele crescer, queria que a vida dele fosse uma imensa tragédia shakespeariana... Não suportaria que fosse uma comédia, não mesmo. Tomou o primeiro gole de café e aquilo queimou sua garganta deliciosamente; se não tivesse aquele café sem açucar pra tomar seu dia nunca começaria direito. E seu dia seguia desajeitadamente, mascando chicletes sem gosto, fumando cigarros pela metade e apagando na sola de seu All Star, andando pra lá e pra cá, o céu nublado e as arquiteturas que ele insistia em admirar. E sentia orgulho de tudo aquilo, e sentia orgulho da vida desajeitada, do andar bêbado que era o ritmo que levava, e dos tropeções que ninguém estava lá para ver.
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