domingo, 11 de março de 2012

Essa gripe me deixa meio azul

Umas pancadas na cabeça e a gente esquece até de como se escreve. E eu, que já era afirmação com ponto de interrogação no final, agora pego pontes desconexas e rumo ainda mais sem direção. Se meu coração fosse um toca-discos ele reproduziria um blues arrastado, daqueles de deixar todo mundo sisudo. E eu nem bebo mais. Uns meses atrás eu deixaria Tom Waits tocar no lugar do meu coração... e beberia. Mas não mais. Sinto como se minha vida tivesse de alguma maneira resetado, e que eu preciso reaprender uma série de coisas. Mudar sempre traz desconfortos para mim. Sou um velho careta acomodado em uma poltrona velha toda rasgada, e eu não quero abrir mão das minhas certezas. Afinal, eu sei de todos os rasgos da minha poltrona, e os rasgos são histórias que se afastarão de mim com a chegada de uma novíssima poltrona reclinável de couro que faz barulhinhos quando se mexe nela. A nova poltrona é uma melhoria de vida, é um avanço... ela representa um passo adiante em direção ao desconhecido. As coisas antigas me são muito queridas, e me magoa ser forçado a reciclar minhas lembranças. De toda maneira, eu ando meio triste. Tinha algumas expectativas que não foram pra frente, e agora estou em entropia kármica reclamando que preciso recolocar as coisas no lugar. Minha nostalgia é qualquer coisa parasitária dessa minha nova vida, e que precisa ser deixada de lado. Bazar Pamplona é um conforto gostoso: "todo futuro é fabuloso", "mas não esqueçam de viver bem devagar". É por aí...