sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cabral

"Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada"

A ausência, a completa ausência de um não sei o quê. É como se minha vida toda eu estivesse dormindo (..) sou apenas um vulto dormindo, estagnado, esperando alguma coisa acontecer, arrastando-me pela vida suja e abafada. Essa ausência que se manifesta como uma lâmina ou bala, cuidadosamente acoplada na pele e que com seus dentes mastiga a carne. Ou então como um relógio, compassado e constante (como a saudade do que falta, como os batimentos do coração engaiolado).

Parecia ter perdido uma coisa que eu nunca realmente tive, estava como um 'cão sem plumas'; as vezes parece que a vida corrói até mesmo o que não temos, destrói os sonhos. Aos poucos o que idealizamos cai aos pedaços. Por tempos, a falta dessa esperança frágil nos torna irreconhecíveis àqueles que acreditavam nos conhecer; é como uma mudança de estações, talvez um ciclo que tende a se repetir.

Sentia-me neste verão nordestino, da caatinga, do semi-árido, magro de esperança, seco de sonhos, vida na morte, morte na vida, solitário em dunas de areia que sufocavam os pés e dificultavam a movimentação, a articulação de ideias. Sôfrego de sonhos.

E a ciclagem das estações continua, infinitamente. É impossível viver sem um sonho.

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio"

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