SHADOWPLAY;
Rodízio de dedos para estalar, qualquer loucura é um atentado ao tédio.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Janaina
sexta-feira, 22 de março de 2013
A inventividade da vida na clausura do teatro em "Opening Night"
quarta-feira, 20 de março de 2013
Pão com manteiga, café e cigarros
Existe um tipo de ritual que Elias realiza todos os dias, que é tomar o café amargo sem açúcar com pão francês, e fumar um cigarro enquanto fica em silêncio pela casa refletindo. Ele vê nesse gesto algo de poético, algo de grandioso. Não sabe bem explicar o porquê. Prepara seu café com calma. É o único momento até o final do dia que ele irá poder ter algum tipo de calma ou sossego, então aproveita. Já sabe da dor de cabeça do transporte público: metrô pra ir pro emprego, dois ônibus pra ir pra faculdade. No começo enxergava no transporte público certo grau de poesia também. Veja bem, Elias se esforça pra enxergar o mundo através de lentes analíticas disfarçadas de otimismo (ou vice-versa), mesmo que faça isso revestido sempre de prepotência intelectual - ele é uma espécie de voyeur do cotidiano. De toda forma, via no transporte público algo já anunciado na literatura nacional pelo livro "O cortiço" de Aluízio de Azevedo: lembra-se dos dizeres de sua professora de literatura acerca do livro, sobre como o autor gostava de explorar narrativas transcorridas em espaços de vivência compartilhada, utilizando a proximidade dos indivíduos em seu cotidiano como uma forma de gerar situações que revelem as hipocrisias e confrontos inerentes à sociedade. Pra Elias, o transporte público de maneira geral era qualquer coisa assim: um pedaço de convivência com todo tipo de gente, mesmo que por um tempo limitado do dia. É "O cortiço" nosso de cada dia. Por um tempo até deixara de escutar música para poder escutar conversas. Mas hoje está em um momento da vida em que tudo provoca irritação, é um estado de insatisfação crônica. Ele sente-se extremamente preguiçoso em relação a tudo, e só quer atravessar os dias até essa maré passar. Ele sabe que passa, porque sempre passa. Toma o último gole de café, veste seus tênis e parte pra mais um dia. Seu rosto, antes de abrir a porta de casa para ir, é um misto de tédio, sono e tristeza. Todo mundo tem seus motivos.
domingo, 11 de março de 2012
Essa gripe me deixa meio azul
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Minha consciência pierrotiana
É aquele velho mal-estar entalado na garganta. Recorro ao petume, bebo fumaça como se fosse remédio caseiro, faço igual aos indígenas antes da comunhão com o sagrado. É um paradoxo no mínimo curioso: os rituais e as crenças que pra outros soam absurdas e ingênuas são a herança que carrego, e absurdo pra mim é todo o resto. Minhas percepções já estão alteradas, caso meus dedos com uma alucinação qualquer, deito meus olhos cansados sobre pretéritos perfeitos e imperfeitos... e mais-que-perfeitos. O bom de viver no passado é não enfrentar o desconhecido. Mas é inevitável, e portanto busco neste transe algum tipo de epifania, uma nova interpretação da realidade, uma direção, qualquer coisa que me permita enfrentar o que está por vir - mas nada aparece. Não sei o que dizer do desconhecido, não sei o que fazer com as coisas que não entendo. Aos poucos sou absorvido por uma realidade dura e crua, um maquinismo de pensamentos e logicidades, sou ridicularizado e torno-me um bárbaro que ainda acredita no amor rústico. O petume como conheço é substituído por algo bem mais aristocrático: chaminés cuspindo fumaça. Ah, a modernidade!
Mudança de cenário. Ando pelas avenidas largas da metrópole de nossos tempos: lojas com luzes piscantes, anúncios espalhafatosos, prédios e mais prédios... A vida até parece perfeita quando se vive neste cosmo pré-fabricado. Estou tão entretido com os concretos que não vejo e esbarro em um desses indesejáveis que estava agachado no chão. Tropeço e caio. O homem corre em meu auxílio pedindo por desculpas com o mais sem jeito dos jeitos. Estou prestes a dizer alguma idiotice quando reconheço o homem. Como não reconhecer uma das mais belas metáforas já criadas? Pierrot tem olhos chorosos e tudo nele denuncia desvario, neurose, esquizofrenia romântica. Pergunto o que ele fazia ali agachado no chão, e ele responde que havia perdido algo de importante valor. Insisto para saber do que se trata. Pierrot, com sua teatralidade e seu exagero inatos, responde que procurava pelo amor que lhe fugiu. E, como em um estalo, Pierrot transubstancia-se em mim. Ah, como pude esquecer? Arlequim, seu alcoviteiro, seu debochador, quando foi que deixei você vencer? Roubou meu amor, roubou o que eu acreditava, e eu meti-me neste ostracismo e nada mais quis enxergar! Aos poucos me acalmo. Não existe lugar na fluidez do mundo que vivo pra ingenuidade e para o amor platônico tipicamente pierrotiano, não é? Mas sempre existirão Arlequins e Colombinas. E talvez Pierrot seja visto como um louco, mas é só porque todos ao seu redor estão insanos e acham isso a coisa mais normal do mundo. Pierrot, ah, como sua lucidez me dói. Pierrot, você é o nó na minha garganta.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O amor em grego
filo pedaços de ti para mim
tuas maneiras, teus gestos, tuas frases
tuas escusas, teus carinhos
tua poesia ruim
tudo isto se torna muito meu
te filosofio
crio postulados sobre ti
teu gosto, teu cheiro,
teus cabelos da cor dos olhos
teus olhos, ah, teus olhos!
tudo isto se torna uma reflexão metafísica
Ó, Platão
que mundo de sonhos me deste
Ó, Aristóteles
que paradoxo do ser e estar feliz me mostraste
(quando se é jovem tudo são efemeridades,
até quando durará seu amor que não é amor?
- porque não sei nada, só penso que sei)
Na distância do sonhar tu te tornas uma idelização bonita
e por hoje basta a turbulência do que passas,
deixa a nossa velhice (e a felicidade) pra mais tarde, amor.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
síndrome de "locked-in"
mas dae que aparece o engenheiro. ele avalia o mal-funcionamento, aponta alguns defeitos de fábrica e conta uma história sobre um tal 'joão-de-barro'. o engenheiro diz que nada pode fazer, que ele não tem o equipamento nem a permissão para intervir diretamente em mim. porém diz que eu deveira ser mais igual ao 'joão-de-barro' - pra que criar raízes? - dizia o engenheiro enquanto acendia um cachimbo do século passado. tragou e soltou a fumaça lentamente, admirou como a fumaça se esvaia no ar e disse que eu também deveria ser mais parecido com a fumaça - olhe bem como as moléculas se desprendem de um todo completo pra se perder na imensidão do mundo, e nem por isso elas sentem medo, não é? - dizia euforicamente - e quem sabe alguma dessas moléculas não chegue a participar de algo ainda maior do que a fumaça de meu cachimbo... quem sabe alguma delas participe do tal efeito estufa ou algo do gênero. o engenheiro ria. eu mexia os olhos, em condescendência. eu sempre condescendo.
ah, que venha a libertação! que venha o ludismo humano: rasguem meus músculos, quebrem meus ossos, libertem minha mente de toda existência estruturada fisicamente! rompam o cordão umbilical, rompam as minhas raízes! e me deem asas, ó deuses, asas para meus sonhos! (por que peço a eles? cadê meus movimentos? cadê minha vontade? será que tenho a imperatividade pra conseguir mudar? )